domingo, 24 de julho de 2011

Trolls, em poucas palavras...



Você, que acompanha este blog por reconhecer aqui o embrião de um sábio revolucionário que modificará o pensamento da humanidade, ou então que o faz só por caridade, e além disso nada sabe sobre literatura de fantasia ou de mitologia nórdica, provavelmente nunca ouviu falar em "troll". Se já leu "O Senhor dos Anéis", o que o situaria um degrau a mais na direção da nerdice contemporânea, provavelmente relaciona essa palavra às criaturas grotescas que podem ser gigantes violentos ou anões sorrateiros, dependendo da fonte. Mas se, aparte de tudo isso, é um usuário habitual de sites de relacionamento da internet, reconhece o termo aplicado frequentemente àquele chato que surge do nada para avacalhar um assunto ou discussão interessante.

Antes de mais nada, é preciso separar o joio do trigo; o termo "troll" da internet nada tem a ver, em sua origem, com os monstrengos mitológicos, apesar de se assemelhar muito a eles em seu produto final. Surgiu da expressão "trolling for suckers", cunhada em uma antiga rede de grupos de discussão chamada Usenet, que significa algo como "lançando a isca para os trouxas". Porque o que um troll internético faz é exatamente isso, promove discussões, só que normalmente estas descambam para agressões pessoais ou para um entediante duelo de vaidades, tal é o teor que o "mala sem alça" confere aos próprios comentários.

Normalmente um troll se infiltra como um câncer em uma comunidade virtual usando uma identidade falsa, ou "fake". Os motivos que o levam a isso são tão evidentes quanto sua pusilanimidade: uma vez que sua intenção é a pior possível, não trazendo nada de construtivo, o troll teme que sua imagem como pessoa física seja associada a uma conduta tão vergonhosa, por isso se esconde por trás de um disfarce virtual. Esta é a maior prova de que ele sabe que está agindo mal deliberadamente, o que faz dele um covarde de mau caráter. O que o troll não percebe é que, ao contrário de sua identidade, o que está expressando existe de verdade dentro dele; sob o rótulo de "faz de conta" ou de "personagem", o troll vomita no mundo virtual as coisinhas feias e vergonhosas que moram confortavelmente em algum recôndito de sua alma (a verdadeira). Isso porque não há maneira de alguém se eximir da responsabilidade sobre as palavras que pronuncia, seja sob que identidade for. As palavras são como o dinheiro, e o que aumenta ou diminui seu valor real é o uso que o ser faz delas. Uma palavra dita para fazer o bem pode alcançar um valor incalculável na vida de quem a profere ou na dos que a recebem. Palavras desperdiçadas com propósitos rasos e destrutivos podem causar um prejuízo inimaginável para o idiota que as reúne em hostes numerosas e agressivas, sempre que o safado é apanhado. Geralmente palavras mal ditas ("malditas", perceberam?...) jorram em quantidade muito mais numerosa que as palavras de bem, uma prova adicional de seu baixo valor, e causam essa inflação que o troll promove nas discussões gerando cansaço, repúdia e um lamentável desvio de uma conversa que frequentemente estava sendo proveitosa para determinado grupo de pessoas idôneas. Talvez para se justificar perante o próprio espelho, muitas vezes o troll se define como uma espécie de justiceiro solitário, um "zorro virtual" que agita a ordem vigente com o objetivo de enriquecer um debate com novos enfoques. Mas não acredito que, no fundo, mesmo o troll acredite em tamanha imbecilidade. Porque há formas infinitamente mais honestas e éticas de fazer isso sem bancar o imbecil, e a verdade mais provável é que a atitude da trollagem nada mais seja do que uma muda admissão da própria incompetência.

Existe ainda um outro tipinho que pessoalmente classifico como troll, que muitas vezes, diferentemente do espécime clássico, lança seus petardos fazendo uso do próprio nome, de sua identidade verdadeira: é o troll pseudointelectual, que da mesma forma que o outro acaba recebendo o rótulo de asno internético, ainda que em seus devaneios quixotescos se considere a cereja do topo do bolo intelectual, destilando seu veneno disfarçado de "erudição de escola de samba", aquela salada de argumentos salpicada de referências a autores ou obras pouco populares ou até herméticos para o entendimento e a apreciação do grande público. Um argumento comum a esses pobres répteis é o "não li/vi e não gostei". Esses trolls criticam obras sem sequer as conhecerem de fato, muitas vezes fundamentando suas opiniões em alguma resenha ou comentário de outra pessoa, que pelo menos teve a decência de conhecer a tal obra para depois comentar. Normalmente desdenham e desqualificam as pessoas que elogiam tais obras (normalmente filmes ou livros), em nome da "verdadeira arte" ou de uma cultura supostamente mais refinada e acessível a poucos (incluindo eles mesmo, logicamente). Considero esses pobres diabos como trolls porque, como os covardes anônimos do princípio, têm como objetivo principal atrair as atenções para si, e também usam as distâncias físicas existentes entre os debatedores virtuais para falarem em tom prepotente, agressivo, verdadeiros valentões cheios de certezas e convicções inabaláveis, um tom que costuma desaparecer magicamente quando são confrontados por um intrerlecutor cujo punho se encontre ao alcance de seu nariz empinado. Ou seja, também são covardes consumados.

A liberdade de expressão proporcionada por essa terra de ninguém chamada internet é o que dá margem a que, de dentro das aparências e máscaras socialmente expostas, surjam esses bárbaros da intelectualidade, que parecem não se importar (e muitas vezes não enxergam mesmo) em se revelarem como seres patéticos, ridículos, rizíveis, infelizmente condenados, a maioria deles, a morrerem afogados na própria soberba achando que estão cobertos de razão e deixando um legado valioso para a humanidade.

O melhor remédio contra tais bacilos já é bem conhecido e divulgado nas redes sociais: "não alimente os trolls". Contemple-os dentro de suas pequenas jaulas douradas, e se por acaso estiver com tempo ou absolutamente entediado, pode até dar-lhes uma cutucada, virando o feitiço contra o feiticeiro, divertindo-se com eles por um tempo, caçando-os como as zebras (jumentos de pijama por trás de um teclado) que são. Mas cuidado para não perder seu enfoque e se deixar rebaixar ao nível de um troll. Acredite, por menos que tenha a acrescentar a uma discussão, por ser justo e ético você já é infinitamente melhor que eles.