sexta-feira, 4 de novembro de 2016

VADE CUM PAPA...


Esse aí, de calças vermelhas e cavanhaque diferentão, é o Max Mallmann. Fiel a seu estilo fora da Curva de Gauss, o Max esperou passar o "hype" do Dia de Finados e só depois, quando ninguém mais estava pensando nisso, pulou para o lado de lá da Matrix. Peste.

Dentre os ases da literatura fantástica nacional, Max foi um "top gun". Dentre suas obras literárias, destaco "Síndrome de Quimera", que lhe abriu as portas da editora Rocco, "Zigurate", e os dois primeiros volumes da agora inacabada trilogia de ficção histórica, "O Centésimo em Roma" e "As Mil Mortes de César", contando as desventuras de Desiderius Dolens, uma espécie de Groo romano deprimido. Na TV, Max participou como roteirista de diversas produções da Globo, como a novela "Coração de Estudante" e as séries "Carga Pesada", "A Grande Família" e "Chapa Quente".
O Max nunca contava vantagem desse sucesso todo. Não. Esse gaúcho exilado no Rio de Janeiro tinha um jeitão bem mineiro: come-quieto, trabalhando em silêncio. Seu tom de voz, sempre baixo, impunha o silêncio ao redor, porque todo mundo queria ouvir o que ele tinha a dizer. Sua risada meio soluçada, risada de gente meio doida, era um triunfo para mim, porque eu considero uma façanha fazer rir um cara com o senso de humor ácido, inteligente e certeiro como o dele. Como bem lembrou o Eduardo Torres, eu também nunca vi o Max levantar a voz agressivamente ou destratar ninguém; pelo contrário, já o vi escutar atentamente e oferecer palavras de conforto a pessoas que sofriam. 
Arrumou lá uma doença como ele, fora da Curva de Gauss, e brigou contra ela por dois anos com uma dignidade assombrosa. Mesmo. Em muitos momentos nem a porcaria da doença escapou de seu humor corrosivo, o que nos dava algum conforto, porque passava a ideia de que ele estava bem. Max, em sua generosa e irredutível gentileza, não queria incomodar. 
Eu me identificava muito com seu processo criativo na literatura, conversamos bastante sobre isso, o que me dava (e dá) a esperança de, um dia, ser uma fera das letras como ele foi. Max deixa um projeto de minissérie na Globo em andamento, uma ideia genial que merecia MUITO virar realidade, além do volume final da saga de Dolens, no qual trabalhava, e acredito que não tenha terminado. Mas todo escritor devia partir assim: deixando uma obra em andamento, assim como a pilha de livros que jamais vai conseguir terminar de ler. Isso dá a sensação de continuidade, de eternidade. Eternidade que nosso Max Mallmann conquistou, haja visto a consternação que sua partida precoce está causando no fandom, e o pedação da sua vida que, na forma de atos e palavras de bem, ele deixou, vivos, nas vidas de todos nós que tivemos o privilégio de conviver com ele. 
Dentre as tantas fotos que os amigos estão postando para homenageá-lo no Facebook, escolhi esta, do amigo Marcelo Augusto Galvão, porque ilustra bem como Max Mallmann viveu, e tenho certeza de que é como ele gostaria de nos ver agora: amizade, alegria, papos inteligentes, literatura na veia. 
Não sei se, a partir de hoje, é o Céu que fica mais bagunçado, ou o Inferno que fica mais doce. Mas onde estiver, irmão, permita-me parafrasear seu personagem mais carismático em minha despedida: "Vade cum Papa, Max."